quarta-feira, 26 de outubro de 2011

COMEMORAR A VITÓRIA DO AMOR!


O Brasil deu um pequeno, mas importante, passo para que o Amor Entre Pessoas do Mesmo Sexo seja respeitado e validado pelos cartórios do país.

http://www.conjur.com.br/2011-out-25/stj-reconhece-casamento-civil-entre-pessoas-mesmo-sexo

A Constituição é clara e a jurisprudência toda ratifica as uniões entre pessoas do mesmo sexo. Não há mais motivo para o Poder Legislativo se omitir frente a questão de combater a homofobia e a ratificação pelo Congresso Nacional de um direito que todos os cidadãos brasileiros possuem. Aliás, é só este poder da República que continua sendo palco de manifestações homofóbicas, criminosas e preconceituosas. O Legislativo já nos envergonha na permeabilidade à corrupção e às falsas acusações de corrupção. É no parlamento brasileiro que as idéias mais funestas ao país encontram eco. Tais ecos não seriam perigosos se não promovessem a exclusão social de amplas parcelas do povo brasileiro.

O Poder Executivo deixa a desejar na questão de combate à homofobia, apesar dos esforços descomunais do Sr. Paulo Vanucchi e da Sra. Maria do Rosário. As Conferências Nacionais são uma vitória. O atendimento pelo Disque 100 é oportuno. Mas ainda existe uma insatisfação nas políticas públicas, especialmente com a atuação do Ministério da Educação. Porém, pode-se dizer que este poder está mais bem formado, atua de forma bastante científica e laica na condução da gestão federal. Fica, entretanto, o alerta: basta de intromissão de religiosos fanáticos, homofóbicos e machistas.

O nosso povo e a comunidade LGBT está esperando, ativamente, que as Leis no país mudem e criminalizem a homofobia!

Direito se conquista!

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Abraçando nossa língua portuguesa...

Hoje recebi uma mensagem eletrônica de uma amiga maravilhosa, a Már. Foi um texto do Mia Couto, um moçambicano dos melhores, dos melhores seres deste nosso planeta que busca saídas para situações milenares, seculares, de anos de opressão e exploração. Fiquei tentado a escrever algo que penso sobre a língua que falamos, das gírias, dos sotaques e da realidade nua da dominação daqueles que não amam a si próprios enquanto imersos em sua própria cultura, em sua maneira de encarar o futuro e a vida como está.

É uma tentação boa neste nosso Brasil que mudou muito nos últimos anos, em que nós, brasileiros e brasileiras, passamos a nos orgulhar da Pátria em que vivemos. Ainda bem que somos mais seletivos e não sucumbimos à triste mensagem dos nossos meios de comunicação (ainda monopolizados) sequer reproduzir o que os analistas internacionais, gabaritados e independentes, descrevem ao mundo todo do que se passa no Brasil. Um país próspero, com um povo trabalhador, alegre e criativo. Nossa imprensa é "achável" (acha isso e aquilo e não encontra nada...só fica o "acho"), é velhaca (só reproduz aquilo que nos inferioriza) e é saudosa dos tempos em que a liberdade era perseguida, presa, torturada e morta, nos tempos da "ditabranda"...

Eu não tenho mais esperança de um Brasil justo com seu povo, em que suas riquezas estejam mais bem distribuídas entre as pessoas do nosso planeta que ainda choram de fome. Participo, com meus tijolinhos (votos, conversas, leituras bem escolhidas, protestos, insatisfação, etc), de um país que encontrou sua força, que, finalmente é mais feliz, faz o mundo ser melhor e trabalha cotidianamente para que nada falte a seus e suas compatriotas e amigos na humanidade. Meu Brasil não é mais um país "do" futuro, é um país que está fazendo cada vez melhor o seu presente e assusta a quem nunca valorizou nosso povo mais pobre, nosso povo sedento de educação, formação técnica, humana, ética, capaz de modificar o que é ruim em algo bom, para todos, universal. Eu tenho certeza num Brasil poderoso, agente da paz, da fraternidade entre os povos e eficaz na sua capacidade de combater a miséria e promover o entendimento plural entre as nações.

Infelizmente isso entristece uma classe média que sucumbe à humilhação que os poderosos oligarcas impõem à Nação. São pessoas que transformam suas vidas vazias, cheias de dinheiro, poder, corrupção (são eles que corrompem os políticos, policiais, o setor público) e autoelogios...
http://veja.abril.com.br/blog/consultorio-sentimental/arquivo/o-autoelogio/

Nossa língua é cada vez mais poderosa e internacional. A força do nosso crescimento econômico vigoroso, consistente e baseado em nosso mercado interno (que incorpora milhões ao consumo, estimulando o crescimento contínuo da produção interna) faz com que a língua portuguesa seja revalorizada onde estava perdendo terreno e redescoberta pelos nossos próprios patrícios europeus. É fundamental que Portugal retome, também, (afastando os neoliberais que reinam por lá) seu caminho de independência, de Justiça Social, Democracia e Solidariedade - enfim o Espírito de Abril, dos capitães e soldados de baionetas floridas que nos encantaram deste lado do Atlântico e que apostaram numa sociedade igualitária, soberana e progressista.

Nossos amigos da África contam conosco para refundarem suas sociedades no clamor de suas culturas, de suas idéias de convivência e de recuperação de seu caminho libertário apontados pelos que lutaram tanto pela libertação de seus povos do jugo colonialista:

Civilização ocidental (Agostinho Neto - angolano)

Latas pregadas em paus
fixados na terra
fazem a casa

Os farrapos completam
a paisagem íntima

O sol atravessando as frestas
acorda o seu habitante

Depois as doze horas de trabalho
Escravo

Britar pedra
acarretar pedra
britar pedra
acarretar pedra
ao sol
à chuva
britar pedra
acarretar pedra

A velhice vem cedo

Uma esteira nas noites escuras
basta para ele morrer
grato
e de fome.

Poemas evocativos que libertaram a África politicamente. Poemas invocadores da independência de povos humilhados e destroçados pela ganância capitalista. Uma África que nos surpreenderá quando se livrar de seus fantasmas que ainda, muitas décadas depois do fim do cativeiro, pululam em suas consciências impedindo-os de se conhecerem, organizarem seu dia a dia e se realizarem superando as forças malignas que impedem os africanos a reencontrarem o caminho de sua realidade. A CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) deve se atualizar, avançar nas trocas culturais, educativas, políticas, econômicas...inteirar-se de que somos parte da humanidade falando uma língua bela, uma língua moderna, que se transforma diariamente...Chorem os que nos querem no passado! O sorriso é de todos nós que nos libertamos do medo, da omissão e da submissão aos que não acreditam (ou não querem) que sejamos nós, os portugueses de todas as cores, os brasileiros de todas as falas, os moçambicanos de todas as raças, os angolanos de todas as ciências, os timorenses de todos os trabalhos...livres, produtivos e permanentemente ousados!

Nosso português, língua-vida, nos ensina a saudade, sentimento lusitano que nos torna diferente dos outros povos. essa saudade que nos leva ao exercício da liberdade responsável, do trabalho inquieto e permanente por uma vida melhor para cada um de nós e para todos, uma socialização das nossas idéias, das nossas participações em todos os processos de avanço da organização popular, social, econômica.

Nossa cultura é múltipla, extra-continental e persuasiva na capacidade de se impor sem agredir, de sobreviver sem deixar-se subjugar e, fundamentalmente, independente tanto no campo da comunidade falante do português, quanto no das outras culturas de comunidades exógenas.

Resta-nos retirar os sapatos tal como Mia Couto diz à gente de sua terra:

"Os sete sapatos sujos
por Mia Couto [*]

Começo pela confissão de um sentimento conflituoso: é um prazer e uma honra ter recebido este convite e estar aqui convosco. Mas, ao mesmo tempo, não sei lidar com este nome pomposo: “oração de sapiência”. De propósito, escolhi um tema sobre o qual tenho apenas algumas, mal contidas, ignorâncias. Todos os dias somos confrontados com o apelo exaltante de combater a pobreza. E todos nós, de modo generoso e patriótico, queremos participar nessa batalha. Existem, no entanto, várias formas de pobreza. E há, entre todas, uma que escapa às estatísticas e aos indicadores numéricos: é a penúria da nossa reflexão sobre nós mesmos. Falo da dificuldade de nos pensarmos como sujeitos históricos, como lugar de partida e como destino de um sonho.

Falarei aqui na minha qualidade de escritor tendo escolhido um terreno que é a nossa interioridade, um território em que somos todos amadores. Neste domínio ninguém tem licenciatura, nem pode ter a ousadia de proferir orações de “sapiência”. O único segredo, a única sabedoria é sermos verdadeiros, não termos medo de partilhar publicamente as nossas fragilidades. É isso que venho fazer, partilhar convosco algumas das minhas dúvidas, das minhas solitárias cogitações.

Começo por um fait-divers. Há agora um anúncio nas nossas estações de rádio em que alguém pergunta à vizinha: diga-me minha senhora, o que é que se passa em sua casa, o seu filho é chefe de turma, as suas filhas casaram muito bem, o seu marido foi nomeado director, diga-me, querida vizinha, qual é o segredo? E a senhora responde: é que lá em casa nós comemos arroz marca… (não digo a marca porque não me pagaram este momento publicitário).

Seria bom que assim que fosse, que a nossa vida mudasse só por consumirmos um produto alimentar. Já estou a ver o nosso Magnifico Reitor a distribuir o mágico arroz e a abrirem-se no ISCTEM as portas para o sucesso e para a felicidade. Mas ser-se feliz é, infelizmente, muito mais trabalhoso.

No dia em que eu fiz 11 anos de idade, a 5 de Julho de 1966, o Presidente Kenneth Kaunda veio aos microfones da Rádio de Lusaka para anunciar que um dos grandes pilares da felicidade do seu povo tinha sido construído. Não falava de nenhuma marca de arroz. Ele agradecia ao povo da Zâmbia pelo seu envolvimento na criação da primeira universidade no país. Uns meses antes, Kaunda tinha lançado um apelo para que cada zambiano contribuísse para construir a Universidade. A resposta foi comovente: dezenas de milhares de pessoas corresponderam ao apelo. Camponeses deram milho, pescadores ofertaram pescado, funcionários deram dinheiro. Um país de gente analfabeta juntou-se para criar aquilo que imaginavam ser uma página nova na sua história. A mensagem dos camponeses na inauguração da Universidade dizia: nós demos porque acreditamos que, fazendo isto, os nossos netos deixarão de passar fome.

Quarenta anos depois, os netos dos camponeses zambianos continuam sofrendo de fome. Na realidade, os zambianos vivem hoje pior do que viviam naquela altura. Na década de 60, a Zâmbia beneficiava de um Produto Nacional Bruto comparável aos de Singapura e da Malásia. Hoje, nem de perto nem de longe, se pode comparar o nosso vizinho com aqueles dois países da Ásia.

Algumas nações africanas podem justificar a permanência da miséria porque sofreram guerras. Mas a Zâmbia nunca teve guerra. Alguns países podem argumentar que não possuem recursos. Todavia, a Zâmbia é uma nação com poderosos recursos minerais. De quem é a culpa deste frustrar de expectativas? Quem falhou? Foi a Universidade? Foi a sociedade? Foi o mundo inteiro que falhou? E porque razão Singapura e Malásia progrediram e a Zâmbia regrediu?

Falei da Zâmbia como um país africano ao acaso. Infelizmente, não faltariam outros exemplos. O nosso continente está repleto de casos idênticos, de marchas falhadas, esperanças frustradas. Generalizou-se entre nós a descrença na possibilidade de mudarmos os destinos do nosso continente. Vale a pena perguntarmo-nos: o que está acontecer? O que é preciso mudar dentro e fora de África?

Estas perguntas são sérias. Não podemos iludir as respostas, nem continuar a atirar poeira para ocultar responsabilidades. Não podemos aceitar que elas sejam apenas preocupação dos governos.

Felizmente, estamos vivendo em Moçambique uma situação particular, com diferenças bem sensíveis. Temos que reconhecer e ter orgulho que o nosso percurso foi bem distinto. Acabamos recentemente de presenciar uma dessas diferenças. Desde 1957, apenas seis entre 153 chefes de estado africanos renunciaram voluntariamente ao poder. Joaquim Chissano é o sétimo desses presidentes. Parece um detalhe mas é bem indicativo que o processo moçambicano se guiou por outras lógicas bem diversas.

Contudo, as conquistas da liberdade e da democracia que hoje usufruímos só serão definitivas quando se converterem em cultura de cada um de nós. E esse é ainda um caminho de gerações. Entretanto, pesam sobre Moçambique ameaças que são comuns a todo o continente. A fome, a miséria, as doenças, tudo isso nós partilhamos com o resto de África. Os números são aterradores: 90 milhões de africanos morrerão com SIDA nos próximos 20 anos. Para esse trágico número, Moçambique terá contribuído com cerca de 3 milhões de mortos. A maior parte destes condenados são jovens e representam exactamente a alavanca com que poderíamos remover o peso da miséria. Quer dizer, África não está só perdendo o seu próprio presente: está perdendo o chão onde nasceria um outro amanhã.

Ter futuro custa muito dinheiro. Mas é muito mais caro só ter passado. Antes da Independência, para os camponeses zambianos não havia futuro. Hoje o único tempo que para eles existe é o futuro dos outros.

Os desafios são maiores que esperança? Mas nós não podemos senão ser optimistas e fazer aquilo que os brasileiros chamam de levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima. O pessimismo é um luxo para os ricos.

Meus senhores e minhas senhoras

A pergunta crucial é esta: o que é que nos separa desse futuro que todos queremos? Alguns acreditam que o que falta são mais quadros, mais escolas, mais hospitais. Outros acreditam que precisamos de mais investidores, mais projectos económicos. Tudo isso é necessário, tudo isso é imprescindível. Mas para mim, há uma outra coisa que é ainda mais importante. Essa coisa tem um nome: é uma nova atitude. Se não mudarmos de atitude não conquistaremos uma condição melhor. Poderemos ter mais técnicos, mais hospitais, mais escolas, mas não seremos construtores de futuro.

Falo de uma nova atitude mas a palavra deve ser pronunciada no plural, pois ela compõe um conjunto vasto de posturas, crenças, conceitos e preconceitos. Há muito que venho defendendo que o maior factor de atraso em Moçambique não se localiza na economia mas na incapacidade de gerarmos um pensamento produtivo, ousado e inovador. Um pensamento que não resulte da repetição de lugares comuns, de fórmulas e de receitas já pensadas pelos outros.

Às vezes me pergunto: de onde vem a dificuldade em nos pensarmos como sujeitos da História? Vem sobretudo de termos legado sempre aos outros o desenho da nossa própria identidade. Primeiro, os africanos foram negados. O seu território era a ausência, o seu tempo estava fora da História. Depois, os africanos foram estudados como um caso clínico. Agora, são ajudados a sobreviver no quintal da História.

Estamos todos nós estreando um combate interno para domesticar os nossos antigos fantasmas. Não podemos entrar na modernidade com o actual fardo de preconceitos. À porta da modernidade precisamos de nos descalçar. Eu contei sete sapatos sujos que necessitamos deixar na soleira da porta dos tempos novos. Haverá muitos. Mas eu tinha que escolher e sete é um número mágico.

O primeiro sapato: a ideia que os culpados são sempre os outros e nós somos sempre vítimas

Nós já conhecemos este discurso. A culpa já foi da guerra, do colonialismo, do imperialismo, do apartheid, enfim, de tudo e de todos. Menos nossa. É verdade que os outros tiveram a sua dose de culpa no nosso sofrimento. Mas parte da responsabilidade sempre morou dentro de casa.

Estamos sendo vítimas de um longo processo de desresponsabilização. Esta lavagem de mãos tem sido estimulada por algumas elites africanas que querem permanecer na impunidade. Os culpados estão à partida encontrados: são os outros, os da outra etnia, os da outra raça, os da outra geografia.

Há um tempo atrás fui sacudido por um livro intitulado Capitalist Nigger: The Road to Success de um nigeriano chamado Chika A. Onyeani. Reproduzi num jornal nosso um texto desse economista que é um apelo veemente para que os africanos renovem o olhar que mantém sobre si mesmos. Permitam-me que leia aqui um excerto dessa carta.
Caros irmãos: Estou completamente cansado de pessoas que só pensam numa coisa: queixar-se e lamentar-se num ritual em que nos fabricamos mentalmente como vítimas. Choramos e lamentamos, lamentamos e choramos. Queixamo-nos até à náusea sobre o que os outros nos fizeram e continuam a fazer. E pensamos que o mundo nos deve qualquer coisa. Lamento dizer-vos que isto não passa de uma ilusão. Ninguém nos deve nada. Ninguém está disposto a abdicar daquilo que tem, com a justificação que nós também queremos o mesmo. Se quisermos algo temos que o saber conquistar. Não podemos continuar a mendigar, meus irmãos e minhas irmãs.

Quarenta anos depois da Independência continuamos a culpar os patrões coloniais por tudo o que acontece na África dos nossos dias. Os nossos dirigentes nem sempre são suficientemente honestos para aceitar a sua responsabilidade na pobreza dos nossos povos. Acusamos os europeus de roubar e pilhar os recursos naturais de África. Mas eu pergunto-vos: digam-me, quem está a convidar os europeus para assim procederem, não somos nós? (fim da citação)
Queremos que outros nos olhem com dignidade e sem paternalismo. Mas ao mesmo tempo continuamos olhando para nós mesmos com benevolência complacente: Somos peritos na criação do discurso desculpabilizante. E dizemos:
· Que alguém rouba porque, coitado, é pobre (esquecendo que há milhares de outros pobres que não roubam)
· Que o funcionário ou o polícia são corruptos porque, coitados, tem um salário insuficiente (esquecendo que ninguém, neste mundo, tem salário suficiente)
· Que o político abusou do poder porque, coitado, na tal África profunda, essas práticas são antropológicamente legitimas
A desresponsabilização é um dos estigmas mais graves que pesa sobre nós, africanos de Norte a Sul. Há os que dizem que se trata de uma herança da escravatura, desse tempo em que não se era dono de si mesmo. O patrão, muitas vezes longínquo e invisível, era responsável pelo nosso destino. Ou pela ausência de destino.

Hoje, nem sequer simbolicamente, matamos o antigo patrão. Uma das formas de tratamento que mais rapidamente emergiu de há uns dez anos para cá foi a palavra “patrão”. Foi como se nunca tivesse realmente morrido, como se espreitasse uma oportunidade histórica para se relançar no nosso quotidiano. Pode-se culpar alguém desse ressurgimento? Não. Mas nós estamos criando uma sociedade que produz desigualdades e que reproduz relações de poder que acreditávamos estarem já enterradas.

Segundo sapato: a ideia de que o sucesso não nasce do trabalho

Ainda hoje despertei com a notícia que refere que um presidente africano vai mandar exorcizar o seu palácio de 300 quartos porque ele escuta ruídos “estranhos” durante a noite. O palácio é tão desproporcionado para a riqueza do país que demorou 20 anos a ser terminado. As insónias do presidente poderão nascer não de maus espíritos mas de uma certa má consciência.

O episódio apenas ilustra o modo como, de uma forma dominante, ainda explicamos os fenómenos positivos e negativos. O que explica a desgraça mora junto do que justifica a bem-aventurança. A equipe desportiva ganha, a obra de arte é premiada, a empresa tem lucros, o funcionário foi promovido? Tudo isso se deve a quê? A primeira resposta, meus amigos, todos a conhecemos. O sucesso deve-se à boa sorte. E a palavra “boa sorte” quer dizer duas coisas: a protecção dos antepassados mortos e protecção dos padrinhos vivos.

Nunca ou quase nunca se vê o êxito como resultado do esforço, do trabalho como um investimento a longo prazo. As causas do que nos sucede (de bom ou mau) são atribuídas a forças invisíveis que comandam o destino. Para alguns esta visão causal é tida como tão intrinsecamente “africana” que perderíamos “identidade” se dela abdicássemos. Os debates sobre as “autenticas” identidades são sempre escorregadios. Vale a pena debatermos sim, senão, não poderemos reforçar uma visão mais produtiva e que aponte para uma atitude mais activa e interventiva sobre o curso da História.

Infelizmente olhamo-nos mais como consumidores do que produtores. A ideia de que África pode produzir arte, ciência e pensamento é estranha mesmo para muitos africanos. Ate aqui o continente produziu recursos naturais e força laboral. Produziu futebolistas, dançarinos, escultores. Tudo isso se aceita, tudo isso reside no domínio daquilo que se entende como natureza . Mas já poucos aceitarão que os africanos possam ser produtores de ideias, de ética e de modernidade. Não é preciso que os outros desacreditem. Nós próprios nos encarregamos dessa descrença.

O ditado diz. “o cabrito come onde está amarrado”. Todos conhecemos o lamentável uso deste aforismo e como ele fundamenta a acção de gente que tira partido das situações e dos lugares. Já é triste que nos equiparemos a um cabrito. Mas também é sintomático que, nestes provérbios de conveniência nunca nos identificamos como os animais produtores, como é por exemplo a formiga. Imaginemos que o ditado muda e passar a ser assim: “Cabrito produz onde está amarrado.” Eu aposto que, nesse caso, ninguém mais queria ser cabrito.

Terceiro sapato- O preconceito de quem critica, é um inimigo

Muitas acreditam que, com o fim do monopartidarismo, terminaria a intolerância para com os que pensavam diferente. Mas a intolerância não é apenas fruto de regimes. É fruto de culturas, é o resultado da História. Herdamos da sociedade rural uma noção de lealdade que é demasiado paroquial. Esse desencorajar do espírito crítico é ainda mais grave quando se trata da juventude. O universo rural é fundado na autoridade da idade. Aquele que é jovem, aquele que não casou nem teve filhos, esse não tem direitos, não tem voz nem visibilidade. A mesma marginalização pesa sobre a mulher.

Toda essa herança não ajuda a que se crie uma cultura de discussão frontal e aberta. Muito do debate de ideias é, assim, substituído pela agressão pessoal. Basta diabolizar quem pensa de modo diverso. Existe uma variedade de demónios à disposição: uma cor política, uma cor de alma, uma cor de pele, uma origem social ou religiosa diversa.

Há neste domínio um componente histórico recente que devemos considerar: Moçambique nasceu da luta de guerrilha. Essa herança deu-nos um sentido épico da história e um profundo orgulho no modo como a independência foi conquistada. Mas a luta armada de libertação nacional também cedeu, por inércia, a ideia de que o povo era uma espécie de exército e podia ser comandado por via de disciplina militar. Nos anos pós-independência, todos éramos militantes, todos tínhamos uma só causa, a nossa alma inteira vergava-se em continência na presença dos chefes. E havia tantos chefes. Essa herança não ajudou a que nascesse uma capacidade de insubordinação positiva.

Faço-vos agora uma confidência. No início da década de 80 fiz parte de um grupo de escritores e músicos a quem foi dada a incumbência de produzir um novo Hino Nacional e um novo Hino para o Partido Frelimo. A forma como recebemos a tarefa era indicadora dessa disciplina: recebemos a missão, fomos requisitados aos nossos serviços, e a mando do Presidente Samora Machel fomos fechados numa residência na Matola, tendo-nos sido dito: só saem daí quando tiverem feito os hinos. Esta relação entre o poder e os artistas só é pensável num dado quadro histórico. O que é certo é que nós aceitámos com dignidade essa incumbência, essa tarefa surgia como uma honra e um dever patriótico. E realmente lá nos comportamos mais ou menos bem. Era um momento de grandes dificuldades …e as tentações eram muitas. Nessa residência na Matola havia comida, empregados, piscina… num momento em que tudo isso faltava na cidade. Nos primeiros dias, confesso nós estávamos fascinados com tanta mordomia e ficávamos preguiçando e só corríamos para o piano quando ouvíamos as sirenes dos chefes que chegavam. Esse sentimento de desobediência adolescente era o nosso modo de exercermos uma pequena vingança contra essa disciplina de regimento.

Na letra de um dos hinos lá estava reflectida essa tendência militarizada, essa aproximação metafórica a que já fiz referência:

Somos soldados do povo
Marchando em frente

Tudo isto tem que ser olhado no seu contexto sem ressentimento. Afinal, foi assim, que nasceu a Pátria Amada, este hino que nos canta como um só povo, unido por um sonho comum.

Quarto sapato: a ideia que mudar as palavras muda a realidade

Uma vez em Nova Iorque um compatriota nosso fazia uma exposição sobre a situação da nossa economia e, a certo momento, falou de mercado negro. Foi o fim do mundo. Vozes indignadas de protesto se ergueram e o meu pobre amigo teve que interromper sem entender bem o que se estava a passar. No dia seguinte recebíamos uma espécie de pequeno dicionário dos termos politicamente incorrectos. Estavam banidos da língua termos como cego, surdo, gordo, magro, etc.…

Nós fomos a reboque destas preocupações de ordem cosmética. Estamos reproduzindo um discurso que privilegia o superficial e que sugere que, mudando a cobertura, o bolo passa a ser comestível. Hoje assistimos, por exemplo, a hesitações sobre se devemos dizer “negro” ou “preto”. Como se o problema estivesse nas palavras, em si mesmas. O curioso é que, enquanto nos entretemos com essa escolha, vamos mantendo designações que são realmente pejorativas como as de mulato e de monhé.

Há toda uma geração que está aprendendo uma língua – a língua dos workshops. É uma língua simples uma espécie de crioulo a meio caminho entre o inglês e o português. Na realidade, não é uma língua mas um vocabulário de pacotilha. Basta saber agitar umas tantas palavras da moda para falarmos como os outros isto é, para não dizermos nada. Recomendo-vos fortemente uns tantos termos como, por exemplo:
· desenvolvimento sustentável
· awarenesses ou accountability
· boa governação
· parcerias sejam elas inteligentes ou não
· comunidades locais
Estes ingredientes devem ser usados de preferência num formato “powerpoint". Outro segredo para fazer boa figura nos workshops é fazer uso de umas tantas siglas. Porque um workshopista de categoria domina esses códigos. Cito aqui uma possível frase de um possível relatório: Os ODMS do PNUD equiparam-se ao NEPAD da UA e ao PARPA do GOM. Para bom entendedor meia sigla basta.

Sou de um tempo em que o que éramos era medido pelo que fazíamos. Hoje o que somos é medido pelo espectáculo que fazemos de nós mesmos, pelo modo como nos colocamos na montra. O CV, o cartão de visitas cheio de requintes e títulos, a bibliografia de publicações que quase ninguém leu, tudo isso parece sugerir uma coisa: a aparência passou a valer mais do que a capacidade para fazermos coisas.

Muitas das instituições que deviam produzir ideias estão hoje produzindo papéis, atafulhando prateleiras de relatórios condenados a serem arquivo morto. Em lugar de soluções encontram-se problemas. Em lugar de acções sugerem-se novos estudos.

Quinto sapato A vergonha de ser pobre e o culto das aparências

A pressa em mostrar que não se é pobre é, em si mesma, um atestado de pobreza. A nossa pobreza não pode ser motivo de ocultação. Quem deve sentir vergonha não é o pobre mas quem cria pobreza.

Vivemos hoje uma atabalhoada preocupação em exibirmos falsos sinais de riqueza. Criou-se a ideia que o estatuto do cidadão nasce dos sinais que o diferenciam dos mais pobres.

Recordo-me que certa vez entendi comprar uma viatura em Maputo. Quando o vendedor reparou no carro que eu tinha escolhido quase lhe deu um ataque. “Mas esse, senhor Mia, o senhor necessita de uma viatura compatível”. O termo é curioso: “compatível”.

Estamos vivendo num palco de teatro e de representações: uma viatura já é não um objecto funcional. É um passaporte para um estatuto de importância, uma fonte de vaidades. O carro converteu-se num motivo de idolatria, numa espécie de santuário, numa verdadeira obsessão promocional.

Esta doença, esta religião que se podia chamar viaturolatria atacou desde o dirigente do Estado ao menino da rua. Um miúdo que não sabe ler é capaz de conhecer a marca e os detalhes todos dos modelos de viaturas. É triste que o horizonte de ambições seja tão vazio e se reduza ao brilho de uma marca de automóvel.

É urgente que as nossas escolas exaltem a humildade e a simplicidade como valores positivos. A arrogância e o exibicionismo não são, como se pretende, emanações de alguma essência da cultura africana do poder. São emanações de quem toma a embalagem pelo conteúdo.

Sexto Sapato- A passividade perante a injustiça

Estarmos dispostos a denunciar injustiças quando são cometidas contra a nossa pessoa, o nosso grupo, a nossa etnia, a nossa religião. Estamos menos dispostos quando a injustiça é praticada contra os outros. Persistem em Moçambique zonas silenciosas de injustiça, áreas onde o crime permanece invisível. Refiro-me em particular à:
· violência domestica (40 por cento dos crimes resultam de agressão domestica contra mulheres, esse é um crime invisível)
· violência contra as viúvas
· à forma aviltante como são tratados muitos dos trabalhadores
· aos maus tratos infligidos às crianças
Ainda há dias ficamos escandalizados com o recente anúncio que privilegiava candidatos de raça branca. Tomaram-se medidas imediatas e isso foi absolutamente correcto. Contudo, existem convites à discriminação que são tão ou mais graves e que aceitamos como sendo naturais e inquestionáveis.

Tomemos esse anúncio do jornal e imaginemos que ele tinha sido redigido de forma correcta e não racial. Será que tudo estava bem? Eu não sei se todos estão a par de qual é a tiragem do jornal Notícias. São 13 mil exemplares. Mesmo se aceitarmos que cada jornal é lido por 5 pessoas, temos que o numero de leitores é menor que a população de um bairro de Maputo. É dentro deste universo que circulam convites e os acessos a oportunidades. Falei na tiragem mas deixei de lado o problema da circulação. Por que geografia restrita circulam as mensagens dos nossos jornais? Quanto de Moçambique é deixado de fora ?

É verdade que esta discriminação não é comparável à do anúncio racista porque não é resultado de acção explícita e consciente. Mas os efeitos de discriminação e exclusão destas práticas sociais devem ser pensados e não podem cair no saco da normalidade. Esse “bairro” das 60 000 pessoas é hoje uma nação dentro da nação, uma nação que chega primeiro, que troca entre si favores, que vive em português e dorme na almofada na escrita.

Um outro exemplo. Estamos administrando Antiretrovirais a cerca de 30 mil doentes com SIDA. Esse número poderá, nos próximos anos, chegar aos 50 mil. Isso significa que cerca de um milhão quatrocentos e cinquenta mil doentes ficam excluídos de tratamento. Trata-se de uma decisão com implicações éticas terríveis. Como e quem decide quem fica de fora? É aceitável, pergunto, que a vida de um milhão e meio de cidadãos esteja nas mãos de um pequeno grupo técnico ?

Sétimo sapato - A ideia de que para sermos modernos temos que imitar os outros

Todos os dias recebemos estranhas visitas em nossa casa. Entram por uma caixa mágica chamada televisão. Criam uma relação de virtual familiaridade. Aos poucos passamos a ser nós quem acredita estar vivendo fora, dançando nos braços de Janet Jackson. O que os vídeos e toda a sub-indústria televisiva nos vem dizer não é apenas “comprem”. Há todo um outro convite que é este: “sejam como nós”. Este apelo à imitação cai como ouro sobre azul: a vergonha em sermos quem somos é um trampolim para vestirmos esta outra máscara.

O resultado é que a produção cultural nossa se está convertendo na reprodução macaqueada da cultura dos outros. O futuro da nossa música poderá ser uma espécie de hip-hop tropical, o destino da nossa culinária poderá ser o Mac Donald's.

Falamos da erosão dos solos, da deflorestação, mas a erosão das nossas culturas é ainda mais preocupante. A secundarização das línguas moçambicanas (incluindo da língua portuguesa) e a ideia que só temos identidade naquilo que é folclórico são modos de nos soprarem ao ouvido a seguinte mensagem: só somos modernos se formos americanos.

O nosso corpo social tem a uma história similar a de um individuo. Somos marcados por rituais de transição: o nascimento, o casamento, o fim da adolescência, o fim da vida.

Eu olho a nossa sociedade urbana e pergunto-me: será que queremos realmente ser diferentes? Porque eu vejo que esses rituais de passagem se reproduzem como fotocópia fiel daquilo que eu sempre conheci na sociedade colonial. Estamos dançando a valsa, com vestidos compridos, num baile de finalistas que é decalcado daquele do meu tempo. Estamos copiando as cerimónias de final do curso a partir de modelos europeus da Inglaterra medieval. Casamo-nos de véus e grinaldas e atiramos para longe da Julius Nyerere tudo aquilo que possa sugerir uma cerimónia mais enraizada na terra e na tradição moçambicanas.

Meus Senhores e minhas senhoras

Falei da carga de que nos devemos desembaraçar para entrarmos a corpo inteiro na modernidade. Mas a modernidade não é uma porta apenas feita pelos outros. Nós somos também carpinteiros dessa construção e só nos interessa entrar numa modernidade de que sejamos também construtores.

A minha mensagem é simples: mais do que uma geração tecnicamente capaz, nós necessitamos de uma geração capaz de questionar a técnica. Uma juventude capaz de repensar o país e o mundo. Mais do que gente preparada para dar respostas, necessitamos de capacidade para fazer perguntas. Moçambique não precisa apenas de caminhar. Necessita de descobrir o seu próprio caminho num tempo enevoado e num mundo sem rumo. A bússola dos outros não serve, o mapa dos outros não ajuda. Necessitamos de inventar os nossos próprios pontos cardeais. Interessa-nos um passado que não esteja carregado de preconceitos, interessa-nos um futuro que não nos venha desenhado como um receita financeira.

A Universidade deve ser um centro de debate, uma fábrica de cidadania activa, uma forja de inquietações solidárias e de rebeldia construtiva. Não podemos treinar jovens profissionais de sucesso num oceano de miséria. A Universidade não pode aceitar ser reprodutor da injustiça e da desigualdade. Estamos lidando com jovens e com aquilo que deve ser um pensamento jovem, fértil e produtivo. Esse pensamento não se encomenda, não nasce sozinho. Nasce do debate, da pesquisa inovadora, da informação aberta e atenta ao que de melhor está surgindo em África e no mundo.

A questão é esta: fala-se muito dos jovens. Fala-se pouco com os jovens. Ou melhor, fala-se com eles quando se convertem num problema. A juventude vive essa condição ambígua, dançando entre a visão romantizada (ela é a seiva da Nação) e uma condição maligna, um ninho de riscos e preocupações (a SIDA, a droga, o desemprego).

Senhores e senhoras

Não foi apenas a Zâmbia a ver na educação aquilo que o naufrago vê num barco salva-vidas. Nós também depositamos os nossos sonhos nessa conta.

Numa sessão pública decorrida no ano passado em Maputo um já idoso nacionalista disse, com verdade e com coragem, o que já muitos sabíamos. Ele confessou que ele mesmo e muitos dos que, nos anos 60, fugiam para a FRELIMO não eram apenas motivados por dedicação a uma causa independentista. Eles arriscaram-se e saltaram a fronteira do medo para terem possibilidade de estudar. O fascínio pela educação como um passaporte para uma vida melhor estava presente num universo em que quase ninguém podia estudar. Essa restrição era comum a toda a África. Até 1940 o número de africanos que frequentavam escolas secundárias não chegava a 11 000. Hoje, a situação melhorou e esse número foi multiplicado milhares e milhares de vezes. O continente investiu na criação de novas capacidades. E esse investimento produziu, sem dúvida, resultados importantes.

Aos poucos se torna claro, porém, que mais quadros técnicos não resolvem, só por si, a miséria de uma nação. Se um país não possuir estratégias viradas para a produção de soluções profundas então todo esse investimento não produzirá a desejada diferença. Se as capacidades de uma nação estiverem viradas para o enriquecimento rápido de uma pequena elite então de pouco valerá termos mais quadros técnicos.

A escola é um meio para querermos o que não temos. A vida, depois, nos ensina a termos aquilo que não queremos. Entre a escola e a vida resta-nos ser verdadeiros e confessar aos mais jovens que nós também não sabemos e que, nós, professores e pais, também estamos à procura de respostas.

Com o novo governo ressurgiu o combate pela auto-estima. Isso é correcto e é oportuno. Temos que gostar de nós mesmos, temos que acreditar nas nossas capacidades. Mas esse apelo ao amor-próprio não pode ser fundado numa vaidade vazia, numa espécie de narcisismo fútil e sem fundamento. Alguns acreditam que vamos resgatar esse orgulho na visitação do passado. É verdade que é preciso sentir que temos raízes e que essas raízes nos honram. Mas a auto-estima não pode ser construída apenas de materiais do passado.

Na realidade, só existe um modo de nos valorizar: é pelo trabalho, pela obra que formos capazes de fazer. É preciso que saibamos aceitar esta condição sem complexos e sem vergonha: somos pobres. Ou melhor, fomos empobrecidos pela História. Mas nós fizemos parte dessa História, fomos também empobrecidos por nós próprios. A razão dos nossos actuais e futuros fracassos mora também dentro de nós.

Mas a força de superarmos a nossa condição histórica também reside dentro de nós. Saberemos como já soubemos antes conquistar certezas que somos produtores do nosso destino. Teremos mais e mais orgulho em sermos quem somos: moçambicanos construtores de um tempo e de um lugar onde nascemos todos os dias. É por isso que vale a pena aceitarmos descalçar não só os sete mas todos os sapatos que atrasam a nossa marcha colectiva. Porque a verdade é uma: antes vale andar descalço do que tropeçar com os sapatos dos outros."

[*] Oração de sapiência proferida em Março de 2005 no Instituto Superior de Ciências e Tecnologia de Moçambique .

Obrigado, Marcita, por este texto maravilhoso! (só eu entendo esta penúltima frase - risos)´.

Na última, lhes apresento o hino de Moçambique:

http://youtu.be/W_AnWG6qVQU



Foto de José Saramago e Mia Couto.




sábado, 8 de outubro de 2011

BLOG DENUNCIA TUCANALHAS!

http://altamiroborges.blogspot.com/2011/10/corrupcao-barbiere-ameaca-alckmin.html

Corrupção: Barbiere ameaça Alckmin
Por Altamiro Borges

A operação-abafa desencadeada pelo governo tucano de São Paulo até agora não surtiu resultado. O deputado Roque Barbiere, do PTB, partido da base aliada, fez ontem uma ameaça nada velada ao governador Geraldo Alckmin: “Por que será que o governo se manifesta com tanta veemência, se eu não o acusei, ainda, de fazer nada errado?”. Ainda!!!

Roquinho, como é conhecido, tem sido duramente pressionado a recuar nas suas denúncias de que “25% a 30%” dos deputados da Assembléia Legislativa (Alesp) estão metidos em corrupção através do uso das emendas parlamentares. Depois de desqualificar o “rebelde”, o tucanato até tentou cooptá-lo, oferecendo-lhe uma secretaria no governo estadual, segundo especulou a Folha.

Emendas consomem R$ 188 milhões


Mas as pressões e manobras não contiveram sua língua ferina. Nesta semana, ele afirmou que a Alesp é um “camelódromo” e que os deputados “têm um preço”. Intimado a delatar os corruptos, ele encaminhou depoimento à Comissão de Ética insinuando que o governo estadual está envolvido no escândalo, no que seria um caso típico de “mensalão” – de compra de votos dos deputados.

Até agora não há nada de concreto. Mas o clima na Alesp é de pânico total. Os governistas temem que, pressionado, o “maluco” abra o bico. O Palácio dos Bandeirantes também está apavorado. Afinal, as emendas parlamentares consomem R$ 188 milhões do orçamento estadual por ano. Cada deputado tem direito a distribuir R$ 2 milhões e as emendas favorecem a base governista.

Bruno Covas, a primeira vítima

O escândalo de corrupção, que não dá mais para ser ocultado nem pela mídia demotucana, já produziu a sua primeira vítima. Diante das denúncias, a Comissão de Ética da Alesp aprovou, por unanimidade, convite ao deputado licenciado Bruno Covas, atual secretário do Meio Ambiente e pré-candidato à prefeitura da capital, para explicar as suas relações com os "ladrões" das emendas.

Em agosto passado, antes das acusações de Roquinho, Bruno Covas afirmou em entrevista ao jornal Estadão que um prefeito lhe ofereceu 10% de “comissão” sobre uma emenda de R$ 50 mil para beneficiar a sua cidade. Ao invés de denunciar o esquema fraudulento, o candidato preferido de Geraldo Alckmin teria sugerido entregar o dinheiro do furto para a “Santa Casa”.

Reinado tucano sofre abalos


Agora, a Comissão de Ética quer saber o nome do prefeito e o destino do recurso público. Bruninho Covas está na berlinda e a sua candidatura, ainda no nascedouro, já sofre fortes abalos. Deputados tucanos inclusive debocham da “infantilidade” do protegido de Alckmin. José Serra, que padece da vingança maligna do atual governador, aproveita para atear fogo no ninho tucano.

As investigações sobre o mensalão em São Paulo podem não avançar – afinal, os tucanos já abortaram 91 pedidos de CPI na Alesp –, mas os estragos na base governista já se fazem sentir. O reinado do PSDB em São Paulo, que já dura quase duas décadas, pode estar terminando.
Postado por Miro às 00:53 do dia 08/10/2011.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

SOLIDÃO MATA!

Uma das coisas que eu mais temo é a solidão. Sou humano e sei que isto é muito possível. Infelizmente a humanidade ainda não encontrou seu caminho para que todos possam conviver de forma respeitosa e sem dominação.

A solidão ocorre quando temos nossos próprios medos internalizados, em nossa mente e não conseguimos compartilhar com ninguém o que vai em nossa consciência. Imaginamos que ela acontece quando nos isolamos, ou somos isolados. Pensamos que estamos sós quando não encontramos com quem partilhar nossos objetivos, nossas metas, nosso desejo. Porém a solidão é algo muito mais sério: acontece quando perdemos o sentido de que somos seres humanos dotados de sentimentos, prazeres, tristezas, alegrias...enfim quando descobrimos que podemos chorar e rir, cantar e fazer silêncio obsequioso... a solidão nos pega sentados em frente à televisão, ao computador, nos cinemas, teatros, shows e não partilhamos, não dividimos nossas impressões sobre o que estamos vendo com quem está ao nosso lado...

Podemos ser felizes na solidão?

Acredito que cada ser humano é diferente: possui suas próprias necessidades e tem seus próprios pensamentos. Então acredito sim, a solidão pode tornar alguém muito feliz. Acredito, entretanto, que a maioria dos seres humanos não gosta da solidão e fazem de tudo para dela saírem. É fácil observar isto na convivência familiar quando tantos confrontos existem e tantas vezes são perdoados. Também podemos sentir isso quando a maioria das pessoas perdoam qualquer incômodo com uma pequena, mas forte, palavra: Desculpe!

A sociabilidade é, então, a forma na qual superamos nosso medo do outro e podemos encontrar o caminho do convívio.

Não podemos abrir mão do que se passa na nossa mente: nossos sonhos, nossa forma de encarar o mundo, as pessoas, o lugar onde vivemos. porém, temos que nos esforçar para aceitar quem é diferente de nós mesmos e que muitas vezes nos irritam e nos dá vontade de abandonar. isso parece fácil, mas não é. O esforço em superar o que não gostamos é muito grande e exige exercícios contínuos da capacidade de deixar o outro ser do jeito que é, desde que não nos prejudique e nos traga alguma dor física, mental e social (o preconceito).

Tenho entretanto que afirmar: a solidão mata!

Mata quando nos calamos frente à opressão, ao ódio, à discriminação, à violência, ao deboche irresponsável com vidas e amores. A solidão provoca uma dor mortal porque não insistimos na nossa capacidade de respeitar o outro como ele é, não aceitamos que existe um ser diferente em cada corpo que caminha pelas ruas, praças, avenidas, que vive em suas casas, apartamentos, barracos, nas calçadas, na selva.

Essa solidão deve ser compreendida e combatida: amor próprio e amor social são os remédios para esta solidão.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

A mídia está fazendo silêncio!

Nova Iorque está vivendo um momento importante na tomada de consciência do povo norte-americano sobre a situação de crise econômica no qual seu país está enfiado. Um problema provocado pelo sistema capitalista que mantém a maior economia do mundo submetida a uma concentração de renda que exclui das riquezas da nação quase 90% da população. Uma vergonha que a população dos Estados Unidos não suporta mais!

O movimento não tem líderes, partidos e nem uma orientação definida, porém é composto por gente desempregada, perseguida, esquecida, enfim os que o sistema coloca de lado.

http://vamosalutanacional.blogspot.com/2011/09/os-indignados-de-nova-york.html

Por quê está em silêncio a mídia monopolista brasileira?

Isso é muito importante para a humanidade. Uma mudança no comportamento do povo norte-americano expressando necessidades de conter os males do capitalismo podem promover mudanças políticas internas e externas corroendo o imperialismo no centro de seu território principal. Tais mudanças, hipotéticas, poderiam alterar a forma de atuar de seus dirigente ou novos dirigentes políticos, não só a nível local e estadual, mas também colocando em risco a política secular de alternância de dois partidos políticos que possuem somente divergências secundárias em relação ao futuro dos Estados Unidos, porém se agregam na defesa do sistema capitalista bárbaro, anti-social e que desregula a vida das pessoas.

Um Estado de Bem Estar Social não é uma possibilidade, nem em médio prazo, nos Estados Unidos. Pode ser no longo prazo, se não ocorrerem rupturas mais definidas por uma mobilização nacional que envolva todo povo norte-americano - o que pode significar a auto-destruição do país nos moldes de sua constituição em 1776 - e ter um fim igual ao da União Soviética. Isso seria incrível e surpreendente. Se ocorrer, pode devolver ao mundo todo a esperança de Paz.

Paz que está constantemente ameaçada no Oriente Médio por um comportamento dos imperialistas que impede um encontro fraterno entre palestinos e israelenses. Paz que é difícil nas Américas: no norte, o povo de Quebec quer sua independência (ele fala francês, num país hegemonicamente anglófilo - o Canadá); na América Central, os povos da Nicarágua, de El Salvador, da Guatemala, do Panamá e da Costa Rica já não aguentam o intervencionismo ianque nos rumos de suas próprias nações e, na América do Sul a Colômbia é vítima de uma política de combate ao narcotráfico que não permite a conciliação nacional entre os partidários da repressão violenta aos narcotraficantes e os que buscam a união nacional que englobe todos os atores da sociedade colombiana no combate a estas máfias assassinas. As FARC - Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia devem ser contadas entre esses segmentos pacificadores do país. Porém, não é só na Colômbia que a América do Sul, sofre com o intervencionismo, cada vez mais desmascarado pelos povos da região como no Peru, no Equador, no Uruguai, na Argentina, na Bolívia, no Paraguai e no Brasil - onde a ação ocorre na estúpida maneira em que o governo federal e os partidos que compõem o campo majoritário nos estados e municípios são tratados pelo monopólio dos meios de comunicação. A corrupção corre solta entre estes agentes do imperialismo que utiliza o tema contra todos os inimigos do imperialismo.

Como vemos, até para nós, brasileiros, uma mudança nos rumos dos Estados Unidos pode nos dar mais tranquilidade em nosso processo de desenvolvimento social, econômico e político. Deixaremos de ter como antagonistas fortes os vende-pátria, os militares saudosos da hegemonia norte-americana, os corruptos e corruptores escondidos pela mídia monopolista.

Vamos apostar num mundo melhor?

Acreditando que isso é possível e

que não está longe se participarmos efetivamente dos rumos de nosso país.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Quando devemos ir à praia?

Todo dia me pergunto quando devo ir à praia. O sol brilha forte e o calor é insuportável e fico com medo de ter minha pele maltratada pelo sol, dessa forma digo para mim, não é hora de ir à praia. A chuva cai e o vento frio vem do Pólo Sul e digo que loucura seria ir até a beira do mar. Então, deixo para depois, mais uma vez, a alegria de escutar o barulho das ondas do mar se quebrando na areia. Deixo de sentir a imensidão do horizonte largo e inescrutável...

E fica assim minha pergunta: quando devemos ir à praia?

Creio que cada um de nós teríamos uma resposta boa, convincente e final. Eu não consigo ter esta resposta para mim, de forma tão clara e objetiva - agora, imperiosa, porque moro tão perto da praia. A dúvida me assalta todas as vezes em que acordo e já passou da hora em que eu deveria estar aproveitando o bom sol - o de antes das 10 ou 11 horas da manhã. Eu também fico me questionando se devo ir ao banho de sol e mar depois das três horas da tarde, quando a praia está mais vazia e propensa a estar mais fria.

Uma motivação da qual discordo veementemente é ir à praia porque outras pessoas nos dizem que devemos ir porque faz bem à saúde, tira a palidez própria das doenças, reforça nosso ânimo, etc. O motivo pelo qual devo ir aproveitar o litoral não deve se restringir aos dias de sol e de calor. Eu não vou à praia para apanhar "um bronze" e, tampouco para brincar. Eu fico assustado com pessoas que acreditam estar se divertindo se expondo ao sol causticante do meio dia, que adoram serem encoberta pela areia da praia e que comem algo que não é para ficar mais do que alguns minutos fora de uma geladeira.

As pessoas que visitam uma praia deveriam ser alertadas pelas autoridades sanitárias sobre os riscos que a saúde corre frente ao descompromisso com um comportamento civilizado no banho de mar. Creio que as pessoas deveriam ser informadas que não deve estar ao sol nas horas de maior calor: entre as 10h30m e as 15h30m. Nestas horas o calor é muito forte.

Outra orientação que as pessoas deveriam receber é: vá habituando-se devagar ao sol. Cada dia aumente alguns minutos, conforme sua pele e seu passado de frequentador de praias. Deve-se sempre usar o protetor solar, com filtro garantido, não o bronzeador! Quem não está acostumado deve cuidar-se e usar o fator 5 ou o de maior grau que estiver disponível no mercado. O protetor deve ser passado antes de ir para a praia e reforçado após banhos no mar feitos seguidamente. Ou mesmo após ter suado muito.

As pessoas precisam lembrar que todas as partes do corpo são vulneráveis aos raios solares. Portanto não devem esquecer os cantinhos que muitas vezes acreditamos estarem livres da atuação maligna do sol. Não devem esquecer de proteger o peito dos pés, as costas das mãos, as orelhas, o nariz, os lábios e a área em redor dos olhos. São zonas muito olvidadas, mas que também queimam!

Cuidado! O filtro solar é para ser usado mesmo na sombra! Isto não pode ser esquecido: usar o protetor o tempo em que fique debaixo de um guarda-sol ou árvore para estar com a pele protegida do sol. É que sombra não impede totalmente a passagem dos raios solares, e a luz refletida na areia pode provocar uma queimadura.

Essas dicas são importantes, mas insuficientes para a decisão final de ir à praia.

No final, nos decidimos a ir à praia quando bem entendemos e correndo todos os riscos. Afinal como é gostoso receber os raios solares em nossa pele, como é gostoso sentir a água do mar nos encobrindo e nos refrescando...




domingo, 2 de outubro de 2011

LUTA REAL CONTRA A CORRUPÇÃO!

Enquanto imbecis andam com vassourinhas ridículas, fazendo palhaçadas nas ruas, e que foram a marca de um dos políticos mais corruptos da nossa história, Jânio Quadros, o lado sério de nossa sociedade está pressionando o Congresso Nacional a aprovar leis que realmente garantam a apuração de denúncias e a punição dos corruptos e corruptores.

Só a sociedade organizada de forma eficiente e eficaz garantirá as mudanças das leis que ainda mantém impune os responsáveis pelo desvio do dinheiro público em nosso país.

É preciso que a maioria da sociedade brasileira pressione seus deputados e senadores eleitos para que a Frente contra a Corrupção, que trabalha de forma intensiva nesta casa, consiga os frutos do que estão realizando para efetivamente combater e punir a corrupção de homens públicos, ladrões do povo.


Notícia boa que vem de Brasília!

Por Agência Brasil, Agência Brasil, Atualizado: 2/10/2011 16:42
Frente parlamentar cobra votação de projetos de combate à corrupção | Agência Brasil
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Priscilla Mazenotti

Repórter da Agência Brasil

Brasília - A Frente Parlamentar de Combate à Corrupção pretende pressionar o Congresso Nacional para aprovar os projetos que propõem medidas para enfrentar a corrupção. Hoje, há na Casa 160 propostas que tratam de temas como aumento do combate e tipificação dos crimes de corrupção, restrições a ocupantes de cargos públicos com informações privilegiadas e maior fiscalização na liberação de recursos públicos na contratação de obras e serviços.

De acordo com o presidente da frente, deputado Francisco Praciano (PT-AM), a prioridade é aprovar os projetos que criam varas estaduais exclusivas para crimes de corrupção e câmaras nos tribunais de Justiça, nos tribunais superiores e no Supremo Tribunal Federal para analisar processos de corrupção. 'Temos milhares de processos tramitando na Justiça e os que envolvem corrupção ficam parados nessa fila', disse Praciano.

A frente pretende conversar com os líderes partidários para iniciar um movimento na Casa em favor da análise dos projetos. 'Queremos fazer uma espécie de PAC [Programa de Aceleração do Crescimento] de combate à corrupção com os Três Poderes: Legislativo, Executivo e Judiciário. A impressão que temos é que estamos sempre esperando o próximo escândalo', destacou Praciono.

Entre os projetos de combate à corrupção que tramitam na Casa, 23 estão prontos para votação em plenário. Alguns estão na fila de espera há dez anos, como o de autoria do então deputado Custódio Matos, que aumenta a pena para os crimes contra a administração pública. Na mesma situação está a proposta do então deputado Antônio do Valle, que estabelece que o prazo de prescrição da pena começa a partir do momento em que o fato se torna conhecido e não quando o crime foi cometido.

Edição: João Carlos Rodrigues

Agência Brasil - Todos os direitos reservados.

sábado, 1 de outubro de 2011

Do inesquecível Bertold Brecht

"O Vosso tanque General, é um carro forte

Derruba uma floresta esmaga cem
Homens,
Mas tem um defeito
- Precisa de um motorista

O vosso bombardeiro, general
É poderoso:
Voa mais depressa que a tempestade
E transporta mais carga que um elefante
Mas tem um defeito
- Precisa de um piloto.

O homem, meu general, é muito útil:
Sabe voar, e sabe matar
Mas tem um defeito
- Sabe pensar."